segunda-feira, 18 de junho de 2012

Lançada revista brasileira sobre uso da maconha

Folha de São Paulo, 17.06.2012.


Recém-lançada, 'semSemente', primeira publicação do gênero no país, defende a regulamentação da erva


Cultivo caseiro inibiria o tráfico, afirmam criadores da revista; conduta é crime, sujeito a penas alternativas

A "cultura canábica" -o universo em torno do consumo e do cultivo caseiro da maconha-acaba de ganhar um veículo para se expressar no Brasil. Com 10 mil exemplares, periodicidade bimestral e 64 páginas, chegou às bancas neste mês a "semSemente", primeira revista especializada em maconha no país.

Os editores, Matias Maxx, 31, e Wiliam Lantelme, 36, são os primeiros organizadores da Marcha da Maconha, realizada desde 2007.

A previsão era que o título chegasse às bancas há um mês, na marcha do Rio, mas a gráfica que iria imprimir os exemplares desistiu, temendo problemas com a Justiça.

Além do debate político, a revista traz reportagens sobre o cultivo caseiro da droga, HQs, receitas com a erva e eventos como a Copa Canábica, em que cultivadores apresentaram suas extrações, em local secreto em SP, em maio.

"O projeto é antigo. A certeza de que a publicação vingaria sempre conflitou com a paranoia da repressão imediata", diz Maxx. A decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de 2011, excluindo a interpretação que via apologia em atos como a Marcha da Maconha, abriu o caminho.

A mais tradicional publicação do gênero é a "High Times", dos EUA, criada em 1974. Há também revistas na Argentina e no Chile.

As duas grandes bandeiras da "semSemente" são a regulamentação da maconha e o incentivo ao cultivo caseiro, de preferência com hidroponia (com água e sem terra).

Pela argumentação, o cultivo caseiro inibiria o tráfico e ainda proporcionaria uma melhor qualidade da erva.

"O fumo que se compra nas ruas hoje (...) é mal cultivado e cheio de impurezas. Tem amônia e outras substâncias", diz Lantelme, que fuma 30 gramas por semana (ou cerca de 50 cigarros).

DEBATE

Hoje, o porte e plantio para uso pessoal é passível de penas alternativas. Prisão, não mais. Porém a conduta ainda é considerada crime.

A comissão de juristas do Senado que debate a reforma do direito penal apresentou em maio uma proposta de descriminalizar o usuário.

A autora da proposta, a defensora pública Juliana Belloque, afirma que se baseou em uma tendência mundial e na necessidade de reduzir o número de prisões de usuários por tráfico. "Mas descriminalizar o uso não significa regulamentar. Estamos propondo um passo mais tímido."

Para o jurista Ives Gandra Martins, permitir a descriminalização ou iniciativas como a revista e a Marcha da Maconha é um equívoco. "Não é incentivando o uso indiscriminado que vamos combater o tráfico. E quanto ao argumento da liberdade de expressão, penso diferente. A democracia consiste em gerar responsabilidade social antes de mais nada."

Em 2008, pesquisa do Datafolha mostrou que 76% são contra legalizar a maconha.

Nota: Para mim, a última frase da reportagem é bastante significativa. Apesar de toda mobilização de líderes e influentes pensadores e defensores da legalização da maconha, boa parte das pessoas ainda é contrária. E cientificamente há muitas pesquisas que comprovam os danos que o uso dessa droga causa. Concordo totalmente com Ives Granda, pois essa questão de livre expressão para defesa de uma droga perniciosa e prejudicial à saúde mental e física é desculpa para o uso indiscriminado. Não creio que a legalização da maconha vá diminuir ou utopicamente eliminar o tráfico de drogas no Brasil ou em qualquer parte do mundo. O que poderia sensivelmente produzir alguma mudança é educação e religiosidade consistentes. Mas, no caso do Brasil, educação infelizmente é motivo de muito discurso e tímidas ações governamentais e poucos brasileiros se sentem motivados a realmente estudar e se desenvolverem culturalmente. No caso da religiosidade, a necessidade é de apego ao que a Bíblia efetivamente ensina e não redes de mercantilização de produtos associados à fé. Mais um desserviço ao país para lucro de certamente algum grupo que está por trás desses movimentos e vai ganhar muito com essa revista e com toda essa conceituação pró-maconha.

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