sexta-feira, 27 de julho de 2012

Quando vem a tempestade


Quando eu era garoto dizia a todos que meu pai era mais forte do que qualquer outra pessoa no mundo…
Assim, saía no terraço e rugia para a vizinhança: “O braço de meu pai é tão forte como um tronco! O homem mais forte do mundo…”
Naqueles dias, tínhamos uma cerejeira em nosso quintal. Esse era o meu esconderijo. Três metros acima do nível do solo um galho forte fazia uma bifurcação horizontal, uma espécie de berço, onde podia deixar com o rosto para baixo, a fim de ler e pensar sozinho. Ninguém me perturbava ali. Nem mesmo meus pais sabiam onde eu estava quando queria me esconder. Às vezes, papai saía e chamava: “Wally? Wally?” Mas não me via entre as folhas.
Sentia-me muito esperto.
Então veio a tempestade…
Um dia, de repente, um vento forte percorreu o quintal e atingiu a minha cerejeira com tanta força que arrancou o livro de minha mão e quase me derrubou. Abracei os galhos da bifurcação e segurei-me. Minha cabeça estava pendurada entre eles. Tentei passar minhas pernas ao redor do galho, mas a árvore toda se agitava com o vento…
“Papaaaaaaai!”
Ali estava ele… Os galhos balançavam para cima e para baixo, como ondas gigantescas em um oceano. Papai me viu, e imediatamente saiu no vento e na chuva, e senti-me tão aliviado, porque simplesmente supus que ele subiria na árvore para me apanhar.
Mas não era esse o plano dele.
Veio até um lugar exatamente debaixo de mim, levantou seus braços e gritou: “Pule!”.
“O quê?”
“Pule! Pego você.”
Pular? Meu pai era louco. Estava em pé a uns dois metros abaixo de mim, ergueu seus dois braços magros e mandou-me pular. Se eu tivesse pulado, não seria me apanhado. Eu cairia no chão e então morreria…
Mas o vento e a chuva batiam naquela cerejeira, e ela se curvou para trás e o meu galho se quebrou no tronco. Um pé escapou. Meus olhos estavam arregalados. Então a madeira chorou, quebrou-se e afundou; e o mesmo aconteceu comigo em completo terror.
Não, eu não pulei. Eu soltei. Eu me rendi.
Eu caí.
Em um momento rápido e eterno, eu me desesperei e despenquei. Então é assim, pensei, que é morrer…
Mas o meu pai me apanhou…
Agora, em uma tempestade como esta, a árvore que era o nosso mundo estável, balança, e o instinto faz com que nos agarremos a ela com mais força ainda. Pelas nossas próprias forças, agarramo-nos aos hábitos que nos ajudaram no passado, para repeti-los, crer neles. Deveríamos acreditar no que é em lugar do que pode ser; ou seja, o nosso poder, o nosso raciocínio, os nossos sentimentos e a nossa resistência… Passamos muito tempo gritando: Não!
Mas, como sempre, Deus está presente. O Senhor sempre está presente.E é Ele quem nos diz: “Pule!”

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