quinta-feira, 25 de agosto de 2011

PARA REFLETI|R

E a minha festa, meu pai?


Você faz tudo certo. Seu irmão não. Quando ele se arrepende, ganha uma festa. É justo?

Ao refletir sobre a Parábola do Filho Pródigo ao longo de anos eu sentia uma espécie de injustiça pelo fato do filho pródigo ter recebido uma festança após seu retorno da vida de prazeres mundanos enquanto que o irmão dele, que havia ficado com seu pai, sendo “bonzinho”, obediente, guardador da Lei, não tivera nenhuma festa em sua homenagem, pelo menos relatada na parábola que Jesus contou.

Hoje estava lendo Romanos capítulos 1, 2, 3 e 4, ao caminhar pelos sossegados e inspiradores “trails” (caminhos na mata) do Wildwood. (1) Fiquei pensativo ao me deparar com Romanos 4 versos 4 e 5, que dizem: “Ora àquele que faz qualquer obra não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a dívida. Mas aquele que não pratica, mas crê nAquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça.” Maravilha! O irmão do filho pródigo sentia coisas que eu também vim sentindo em minha experiência na vida, especialmente na vida espiritual. Ou seja, me perguntava, um tanto aborrecido e até irônico para com Deus: “Por que eu, que faço tudo “certinho” ou procuro fazer assim, e por isso sou “correto”, estou dentro da Lei, não recebo uma festa em minha homenagem? Mas aquele que andou por aí, entregue aos prazeres do mundo, depois de aproveitar tudo, volta-se para Deus e recebe uma festa? Puxa! Isto não é justo!”

Você já se sentiu assim? Se você procura levar à sério a vida espiritual, será que se pega às vezes pensando na situação daquele parente seu que é irônico para com as coisas de Deus, que debocha da religião, ou aquele parente ou amigo que não está nem aí para com as coisas espirituais, que vive curtindo os prazeres da vida, bebendo, praticando sexo ilicitamente, ganhando dinheiro ilegalmente e desfrutando de sua riqueza com viagens, compras, etc.? O que sente quando pensa nisto e vive esta realidade em torno de si mesmo? Raiva daquelas pessoas? Rejeição delas? Inveja delas? Confusão de sentimentos? Desejo de justiça do seu modo? Desejo que elas “quebrem a cara”?

Eu já senti tudo isto e acho que até algo mais. Porém, porque eu desejo a verdade e a justiça, porque eu as tenho buscado, e porque eu as não mereço mas preciso delas profunda e desesperadamente, Deus, em Sua misericórdia derramada cada novo dia sobre mim, fez uma luzinha brilhar em minha mente hoje, ao meditar nas passagens acima, a qual gostaria de compartilhar com você agora.

Primeiro, o irmão do filho pródigo não é puro. Ele não obtém a pureza, ou seja, a justiça imputada (atribuída a ele) por sua obediência. Se ele tenta obedecer pelo uso da mente intelectual como esforço destituído da submissão ao poder transformador da graça de Deus, o que ele percebe e colhe é raiva, estresse, irritação, sentimentos de ironia, e talvez desânimo e tristeza. Por quê? Porque tentar ser bom, ser obediente à Lei de Deus sozinho, por esforços pessoais formais, é impossível. Só dá para mudar, agindo dessa forma, por fora, na superfície do ser, na aparência, não na essência da pessoa. A essência continua contaminada, impura, injusta, rebelde.

Não é por estar numa igreja, mesmo atuando em qualquer ministério, como religioso ou leigo, que você muda para melhor. A real mudança só pode ocorrer pela fé na pureza que Jesus é, fé nEle. A qualidade de fé nEle que produz a mudança interior significa, segundo creio, que percebo minha impossibilidade de mudar a mim mesmo, percebo minhas contaminações (mundanidades) em meu caráter, não gosto mais disso, quero que Deus tire o prazer que sinto nestas coisas, e me entrego a Ele, crendo na justiça (incontaminação) de Jesus que Deus diz que coloca sobre mim, assim como Ele colocou túnicas de peles que Ele fez sobre a nudez de Adão e Eva. (Gen. 3:21). Isto é o que em Teologia chamam de “justiça imputada”.

Segundo, o irmão do filho pródigo podia desfrutar da presença do Pai cada dia, e isto significa uma festa diária! Será que ele minimizava isto? Será que ele não desfrutava todo o potencial de felicidade por conviver com o Pai e ter acesso pleno às Suas coisas (Bíblia, comunhão com Ele [oração], meditação em Sua Palavra)? Será que ele estava meio-convertido, ou seja, gostando das coisas espirituais e ainda com fortes desejos de coisas mundanas, e portanto, precisando de muito mais purificação? Será que sua mente racional estava na igreja enquanto que seu coração estava no mundo?

Terceiro, o irmão do filho pródigo talvez não compreendia com a mente e com o coração que o que ele mais merecia de fato era sua grande necessidade espiritual! Isto é o que percebi ao ler Romanos 4:4 na parte que diz que o galardão (a herança, o presente, o dom) não lhe é imputado segundo a graça, mas segundo a dívida. Uau! Que quer dizer isso?

Se eu penso que mereço a festa de Deus em minha homenagem em função do que faço, então estou devendo e muiiiittttooooo a Deus! Por quê? Porque toda boa dádiva e todo dom perfeito vem do Alto, descendo do Pai das luzes. (Tiago 1:17). O que há de bom em mim, se é bom mesmo, é um reflexo do poder do caráter de Deus em minha vida. De mim mesmo, não sou justo (Rom.3:10), sou contaminado desde quando fui gerado no útero de minha mãe (Salmo 51:5). Já venho ao mundo devendo. Então, como quero que o Pai faça uma festa para mim porque acho que sou “o bom”, bem melhor que meu irmão? Meu Pai fará uma festa para mim, e Ele sempre faz junto com os Seus anjos, quando reconheço que de mim mesmo não posso fazer nada, e recorro à Ele buscando receber a justiça (pureza) que vem pela fé nAquele que É o SENHOR JUSTIÇA NOSSA. (Jeremias 23:6).

Por outro lado, o filho pródigo sabia que não merecia nada. Sabia que era totalmente depravado. Sabia que tinha sido injusto para com o Pai. Sabia que merecia morrer na pobreza cruel e sofrimento porque desperdiçara tudo, os bens materiais e as maravilhas da presença do Pai. Sabia que o que havia sobrado em sua vida depois do tempo de prazer mundano era nada. Não tinha dinheiro aplicado em nenhum lugar, não tinha imóveis próprios, não tinha uma família constituída, não tinha crédito, não tinha mais moral, nem amigos, nada. O que ele tinha era sua grande necessidade de mudança interior. Necessidade de ser perdoado, de ser aceito de volta aos braços e lar do Pai. Necessidade de ser reintegrado à família biológica (parentes) e espiritual (povo de Deus). Tudo era necessidade. Tudo o que ele havia praticado depunha contra ele. Nada do que ele havia feito podia ser usado como merecimento de uma festa que preenche e satisfaz, de verdade, a alma. E ele sabia disso. Não negava.

Por isso, Paulo escreveu em Romanos 4:5 que “aquele que não pratica (obras), mas crê nAquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça.” E devido ao arrependimento, confissão a Deus, entrega total, submissão à graça, a pessoa é mudada, um dia de cada vez, passando a praticar obras de justiça. E Deus faz a festa para todos os que O aceitam de coração e crêem no Filho de Deus como seu resgatador, purificador, protetor, justificador, santificador. Deus é tudo em todos. A festa é dEle e para Ele. E todos estamos convidados.


Nenhum comentário:

Postar um comentário